segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Expurgo interno de ano novo

Bebeu.
Antes, durante e depois do juntar dos ponteiros, bebeu.
Bebeu exageradamente como sempre fez quando em companhia de outros tantos com sentimentos igualmente exagerados.
Naquele dia, os cinco eram exagerados de felicidade por estarem juntos, de esperança por dias melhores e de álcool. Muito álcool.
Era ano novo.
.........
Daí que pra ela o ano começou aos poucos, em fases, e aqueles minutos mágicos nos quais a maioria dos humanos pede paz e se promete renovação, pra ela, viraram dias. Dias de ansiedade pelo o que haveria de vir, diluídos na angústia de saber que o seu “reveillon interno” ainda demoraria muito a chegar.
O ponto inicial foi a descoberta do novo. Ou melhor, do novato.
O novato era o amigo do amigo – aquele quem, em edições passadas, compunha o artigo masculino dos três loucos – e foi uma feliz descoberta. Era engraçado, desenvolto e o papo fluía bem com ele, mas ainda era “o novato”, precisava do teste de fogo: a cozinha. A cozinha, que sempre foi o local de nascimento de filosofias, de discussões acaloradas e de risadas sem fim. Nosso ringue. Nosso canto preferido da casa. Se o novato não se adequasse àquele ambiente e não se virasse bem por ali, não seria nosso, seria só o amigo do amigo ou, quem sabe com sorte, seria pra sempre o novato. Mas ele surpreendeu. Em poucos minutos fez seu aquele habitat hostil e ganhou a todos – mentira, ganhou a ela – ao, estampando no peito toda a confiança que tinha nas próprias habilidades, mostrar-se prestativo e solidário às causas e necessidades do grupo.
Mas ainda havia tempo. Aquela meia hora antes, onde todos correm pra ajeitar os retoques finais... pra deixar tudo certo e sóbrio pra tão esperada hora dos fogos, pra ela se tornaria mais: começava ali sua jornada de ano novo e o primeiro passo era a redenção.
Achou mesmo que tinha comentado com uma das melhores amigas sobre a reunião que faria em casa para a fadada passagem.Achou errado. Sabia que a moça estaria em companhia de familiares distantes e talvez por isso tenha se preocupado menos. Só ligou na tal “meia hora antes” pra desejar tudo aquilo que se deseja nessas épocas e, bem, descobriu a gafe que havia cometido. Como pudera? Uma pessoa tão importante e ela simplesmente esquece!? Enfim. Estava feito. Preferiu não lamentar. Desculpou-se o quanto achou necessário e pediu aos céus que o perdão fosse real e se estendesse a todas as burradas que já tinha feito e que ainda haveria de fazer.
Os fogos estouraram. Isso levou algum tempo, mas por todas as partes, onde era possível ver céu, pontos luminosos apareceram em cores diversas, formas diversas e, já altos, os cinco conseguiram até ver desenhos elaborados com mensagens subliminares na fumaça do foguetório.
Porém o ano dela, ao menos, a sua virada só se deu depois que todos já tinham ido dormir. Depois das conversas em inglês com o novato, depois de incentivar a realização de seus anseios mais íntimos ali pelo corredor do prédio mesmo, depois de cuidar do mal alcoólico do garoto, depois de se certificar do sono velado de todos, depois mesmo de seu ritual noturno. Ela deitou no colchão macio da cama, que acabou por dividir com o novato, já um tanto tonta e olhou para o teto enquanto constatava que realmente não estava bem. Preocupou-se em não acordar os outros. Virou para o lado, meteu a cara no vão entre a cama e a parede, e vomitou.
Começou o ano assim: expulsando de si todo o passado embriagado que ainda lhe restava nas entranhas, expurgando os males do ano anterior. E, sabia, se algum gosto amargo insistisse em habitar a boca no dia seguinte, logo seria aplacado com uma boa dose de café. “Nada que o tempo ou chá certo não resolva.”, pensou antes de fechar os olhos e caçar, no sono profundo, a resignação da alma.
Os dias que seguiriam ainda lhe reservariam tensões, expectativas e frustrações.
Mas isso já é outra história...

2 comentários:

Felipe Moratori disse...

Sensacional. Simplesmente sensacional.

Eu queria provar a universalidade dos seus textos para ver se manteria a minha opinião.

Mas com o conhecimento da causa, eu só posso dizer que é sensacional.

E tenho dito.

Igo disse...

adorei!
mto bom hehe
mas não desanime, as coisas vão melhorar nesse ano! se não melhorem, pelo menos a gnt riu bastante no reveillon uahuahuahuahua
te adoro!
bjao!!