sábado, 23 de fevereiro de 2008

O tempo não pára

Até parece que não importou a colação de grau: toda a cerimônia, as gracinhas com o flerte ginasial sentado bem ao seu lado, os amigos presentes, o pai, o teatro lotado. Quando subiu no palco pra receber um simples papel com dizeres totalmente abrangentes e vagos – coisa boba, mas feito pra emocionar –, lacrado com um fitinha barata nacionalista, bem... o papel não fazia diferença nenhuma. Quando subiu no palco pra receber aquele simples papel e ouviu seu nome, soube o quanto era querida e quanta gente havia ali por ela. E por todos os outros. Eram muitos formandos. Era muita gente. Se emocionou por cada um que subiu naquele palco. Compartilhou a expectativa dos aplausos, o gosto do veneno das línguas afiadas e o medo de tropeçar no próprio salto com cada um. Quer dizer, nem todos vai!
E a peregrinação – descalça, na chuva, maquiagem borrada – pra encontrar um simples bar que comportasse confortavelmente toda aquela gente que queria ser divertir junta? O colégio deveria era ter pago os fotógrafos para segui-los após a cerimônia... isso sim deveria ter sido registrado! Não tem problema. Mesmo sem fotos profissionais, ela não vai esquecer.
E também não esquecerá a semana seguinte: a festa. Nesse dia sim, só convidados extremamente vips e cada formando com seu "momento de fama". Alguns nem tão gloriosos assim, mas que ficaram registrados na mente de todos e rendem assunto até hoje. Não houve formatura melhor que aquela. Com todos os problemas e desavenças que pudessem existir na turma, nada, naquela noite, poderia ser melhor que estar ali. Além de todos os queridos, à mesa com seu nome e um incômodo arranjo de flores, reuniam-se, em círculo, seus "close friends", abençoando a noite. Queria ela ter levado mais gente, mas aí a festa seria só dela. E pensando bem, até que por alguns instantes foi: Quem irá esquecer do vestido decotado que desnorteou muita gente!? Da entrega total aos hits gays dos anos 80? Dos beijos calorosos nos cantos da pista que geraram comentários hilários e maliciosos no dia seguinte? Quem irá esquecer da pista vazia, do forró, do funk, do "créu velocidade 5", da discussão violenta com quem pensava ser "amigo", da irritação pós-briga, da tensão entre amigos que seus beijos geraram? Quem!?
Como ela, outros fizeram a noite. Com "temáticas" diferentes talvez, porém não mais amenas. Tudo foi intenso naquele vinte e cinco de janeiro. E tudo pra dizer "tchau".
As fotos da turma inteira, na capa do convite, não a deixam esquecer os nomes e as características de cada um, por menor que tenha sido a convivência. E sente saudades cada vez que olha. No verso do convite, mais fotos. Momentos dentro e fora do colégio, festas, gincanas, aniversários, tradições que iniciaram, acidentes que causaram... coisas que não vão mais voltar. Não tem problema se ninguém lembrar, ela ainda vai.
Dos trinta e nove com quem dividiu três anos de sua vida, ainda há uns poucos que vê com freqüência: os que, por mérito, dependuraram-se, dispostos a cair, na caixinha dos "close friends" e é ótimo saber que estão ali. É a prova de que algum laço estreito restou e, portanto, valeu a pena.
Pena mesmo é que tudo passe tão depressa.
Ela não se sentia preparada pra nenhuma daquelas provas de início de ano. Ter que escolher o que iria ser "quando crescer" assim, tão rápido, num simples clicar do mouse, sendo que mal tinha saído das fraldas do segundo grau... ela era só uma criatura perdida e sem orientação nenhuma sobre o que fazer com aquele diploma jogado no fundo da gaveta e quando viu, já tinha entregue todos os documentos possíveis à todas as universidades para as quais foi direcionada. Já tinha saído das provas, já tinha recebido os resultados e voltava pra casa em posse de uma matrícula bastante salgada, num ônibus com ar condicionado – num ônibus urbano? Não costumava andar naquela linha, então achou o máximo o fato de que passaria a ser rotina: "Ar condicionado! Cara... por quê a minha linha também não tem isso!?". Se sentiu uma criança boba quando se deu conta dos pensamentos que teve em relação ao ônibus que a levaria de segunda à sexta à universidade. Riu. E então veio o medo, misturado a ansiedade, do primeiro dia de aula. Será que haveria trote? Ela iria fazer parte da primeira turma do curso que escolhera, então... será que haveria? Teve orgulho de si: primeira turma. E ela ainda ficou entre os primeiros lugares! Não devia ser tão burra, enfim. Pensou então que a sensação ia ser um pouco mais forte do que a do primeiro dia de aula do segundo grau, mesmo já tendo conhecido algumas de suas companheiras de sala ali na fila de matrícula mesmo. Ainda assim o coração já batia mais rápido. Lembrou que só estava ali por conta do aviso da grande amiga: um telefonema à noite, o aviso de que o curso que tanto queria finalmente tinha sido aberto, a inscrição numa quinta, a prova no sábado, o resultado na terça, a matrícula na sexta e as aulas na segunda. Muita informação pra pouco tempo!
Lembrou então das "garotas" que conhecera na fila de matrícula: todas mais velhas – tudo tia; nem um vidado pra contar história, pode!?. Se sentiu mesmo uma criança perto delas. Uma criança que vai ter de agarrar esse curso sozinha, porque, apesar da força dos amigos, os familiares que mais lhe importam acham tudo isso "perda de tempo e coisa de quem tem dinheiro". Eles queriam mesmo é que ela tivesse um "drª" na frente do nome. Eles nem sabem se ela tem talento... nem ela sabe! Ela só quer descobrir. Sonhou, outro dia, que recebia um prêmio. Sabia exatamente a quem agradecer e em qual ordem: à garota do telefonema, à quem a bancou mesmo sem levar muita fé no investimento e a todos que não acreditaram nela, porque ela conseguiu provar que eles estavam errados o tempo todo.
Mas, por enquanto, ela ainda se sente uma criança sem muitas defesas contra o mundo lá fora... sem saber o que esperar da famigerada segunda-feira.
Uma criança que viu correr as horas nesse início de ano e só hoje se deu conta que fevereiro já está no fim e ela nem conseguiu contar – aqui – ao mundo, todas as coisas boas que lhe aconteceram nesse meio tempo!...

1 comentários:

Unknown disse...

eeeh o tempo não para

mas acho q essa falta de defesas é comum a todo mundo, até mesmo aos mais velhos. o mundo é meio selvagem e a medida que envelhecemos só aprendemos a enganá-lo, mas sempre com medo d ele perceber o q estamos fazendo. apenas enganamos o mundo pq não existe defesa.

e eu tb me pergunto: pq não tem ar condicionado na minha linha de onibus tb?...


bjss