domingo, 23 de março de 2008

Dois perdidos numa noite suja

Como prometido, o título do post faz jus à noite da última sexta.

Chegou a pensar que nunca aconteceria de novo – tinha confessado a uma amiga na semana anterior –, mas lá estavam novamente, jogados pelo quarto, cansados e felizes, satisfeitos pela noite ter sido boa para os dois, por terem se divertido juntos, simples e claramente. Ao menos, foi como viu.
Era então 11 de março quando sentiu bater forte no peito que as coisas poderiam não ser como antes. Ter passado todo o dia do próprio aniversário ao lado do amigo não convenceu que estava tudo bem. A conversa no msn, no domingo anterior, muito menos. Àquela hora, tudo isso se juntava à lembrança do 12 de janeiro. Pensou no quanto queria dizer quanto tempo fazia; imaginava sempre que este pudesse ser um dia de riso solto e poucas preocupações. Depois, pensou que nunca deveria ter agido da forma que agiu; então não haveria constrangimento nem conversas de msn, só um desejo contido. Por fim, pensou que poderia perder o amigo, apesar de tanto esclarecer a relação que tinham – justamente por isso, na verdade –, e foi o que mais doeu. No tempo livre, era só isso que vinha à mente.
Não conseguiu esquecer. A noitada entre amigos da semana seguinte não fez o mal-estar passar. Os projetos em comum, a princípio, também não. Era simplesmente uma grande falta de tato e assunto estar perto de quem quer que fosse. Já estava refletindo no dia-a-dia, mas justamente os tais projetos fizeram com que retomasse o prumo. A reunião para consolidar os detalhes finais rendeu-lhes, além desses, garrafas de cerveja, fichas de sinuca, risos, amigos encontrados por acaso e almas lavadas.
Parecia a consolidação do bem-estar! Saíram de casa já com uma vodka em punho, como fosse espada de luz a enfrentar toda sombra de pesar que pudessem encontrar pelo caminho. Tinham destino certo. E lá, muitos conhecidos – alguns nem tão queridos –, novos “amigos”, muita diversão, muita música. Dançaram o quanto conseguiram, como adoravam fazer sempre. Circularam pelo lugar de mãos dadas sem se preocupar em serem os diferentes dali. Eram amigos e sabiam disso. Se alguém quisesse pensar além, não estavam se importando.
Teve orgulho de si. Pela primeira vez, em tempos, se sentia plenamente feliz em estar ao lado daquele ser tão querido como “just close friends”. Quase decifrou por completo a singularidade da amizade que tinham e enquanto dançavam, tão perto, compreendeu que certas coisas dificilmente voltariam a acontecer. Foi quando fechou os olhos e dançou com a alma. Era tudo, por fim, tão claro. E estava feliz que fosse assim: claro e sólido.
Mas se pudesse escolher da noite uma cena, escolheria a mais surreal: em meio a toda a agitação do bar, num sofá de canto, tateava os fios curtos do cabelo do amigo enquanto se aninhava em seus braços a esperar que o repertório da pista melhorasse.
A conversa seguia indiferente ao ritmo acelerado das batidas eletrônicas que se espalhavam por todo o ambiente. O que os divertia, naquele momento, era a constatação da fragilidade do ser humano. “Olha toda essa gente: andam da pista pro bar e do bar pra pista a noite inteira... como se estivem perdidos. Querem mesmo é se fazer notar, pra não serem esquecidos!”. Eles também. Mas já se destacavam só por estarem ali tão alheios.
Eram, portanto, dois, também perdidos, numa noite pagã, observando o semelhante em seu estado mais interessante e perigoso: ébrio de felicidade e livre arbítrio.

2 comentários:

Unknown disse...

gnt q coisa, não? xDD

Déa Nucifera disse...

fico feliz q tenha voltado a escrever essas linhas tão sinceras...
senti saudades...

bjs