quarta-feira, 9 de julho de 2008

Agnóstico


Talvez fosse melhor ter pedido uma família naqueles anseios nunca antes inocentes de criança que nunca acreditou em papai Noel – nunca teve quem se empenhasse em fazê-la acreditar. Uma vez até tentou satisfazer um familiar deixando o tênis rosa na janela, mas também fez questão de ficar acordada pra ver o tal Noel chegar. Não deu. Acabou pegando no sono. Mas pouco importava, os brinquedos, em qualquer época do ano, vinham todos do mesmo lugar: da siderúrgica na qual o pai trabalhava. E disso sabia. Não se tinha historinhas pra esse tipo de coisa. Vinha da siderúrgica e ponto. Na época em que a siderúrgica ainda distribuía presentes pros filhos dos funcionários, porque depois... depois ela mesma ia escolher nas lojas de brinquedos e então não havia mais a necessidade de esperar um velho qualquer trazer ou não os presentes.
E cresceu assim... sem contos de fadas, sem saber andar de bicicleta, patins ou mesmo ralar os joelhos porque corria pela rua numa brincadeira qualquer. Nunca correu. Atrás de bola, ônibus ou sonhos. Talvez soubesse ser inútil tamanha façanha. Um dia até participou de um time de futebol na escola... e de um jogo! Um jogo que todos tinham medo de escalá-la e que pra ela era um martírio porque nem das regras sabia, muito menos o que fazer com tanta gente querendo a mesma bola. Pois então em mente a única coisa que lembrava das aulas: se a bola parar na sua frente, chute-a. E fez. Pareceram horas intermináveis aquele jogo. Tanto que prefere não lembrar. Mas as vezes não tem jeito. Todas as famílias de todos os jogadores estavam grudados à grade. Ela estava sozinha. Parava no meio do campo e olhava ao redor. Sozinha. O pai sempre se atrasava, mas nunca tanto. E quando chegou... primeiro se irritou por ela estar em campo.. o atrasando a vida. Depois..ah! Aquele olhar de decepção não dá pra esquecer mesmo. A única vez que chuta a bola pra dentro do campo é direto para a rede num gol contra. Desistiu. Depois dessa não dava nem pra continuar em campo...
Engraçado é lembrar a idade que tinha... era pequena.
Mas um dia aprendeu o significado das passagens de ano e que quando se pedia algo com muita vontade ali naquela transição de datas, com sorte e um pouco de fé – ou seria ao contrário? –, a coisa acontecia. Onde foi que perdeu essa fé? Porque pede o mesmo há anos! Não é possível... talvez seja então demais, ou o pedido errado. Mas tem pedido certo pra se fazer na virada do ano? Ela só queria ser feliz. Porque dói tanto quando...quando a sua mãe se recusa a apagar a luz do quarto pra você e você só tem seis anos e morre de medo do escuro, ou quando você tem pesadelos de madrugada e acorda assustada e cai da cama chorando e ninguém aparece pra te socorrer. Ou quando você tem dezenove anos, sente que nunca fez nada realmente significativo e a sua mãe é a pessoa de quem você mais tem rancor nessa vida...

1 comentários:

Unknown disse...

queria poder dizer alguma coisa... mas não posso... é realmente incompreensivel porque fomos largados tão cedo na vida. mas é assim que acontece.

só posso dizer q sinto saudades de vc.

bjss