sábado, 31 de janeiro de 2009

Tome nota

O meu delírio é lembrar teu gosto
teu gesto mais puro
tua frase certeira.

O meu delírio é apertar tua carne
velar teu sono
fazer planos conjuntos.

Me arrepia te olhar de perto.
Me desconcerta ouvir tua voz.

e nessa distância - coisa que a vista não permite alcançar
pois a hora que permitir...
ah...

Ah!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Projetos


Quase se via um arco-íris no fim do precipício limitante do que se pode chamar de visão. Pouco antes tinha sido uma dessas chuvas torrenciais de veraneio. O céu, ainda num cinza escuro azulado que, considero, cai bem e dá elegância a qualquer pessoa. O sol, forte, frio e sínico, do jeito que acho tão lindo.
Um trovão.
Me dispersei da leiturae quase vi o arco-íris.
Pensei: quero uma varanda maior; uma que caiba um sofá grande pra eu poder esquecer da vida e me aninhar no peito dela..

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

"As coisas se pertencem... e tudo vai pra onde deve ir."


É, você que é feita de azul
Me deixa morar neste azul
Me deixa encontrar minha paz
Você que é bonita de mais.

Se ao menos pudesse saber
Que eu sempre fui só de você
E você sempre foi só de mim
Que eu sempre fui só de você...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ontem


É cedo e é domingo. Portanto tudo que é antes do meio dia é cedo.
Mas realmente era cedo. As duas haviam acordado às 7h, a amiga, uma hora mais tarde e pouco depois disso estavam as três voltando do mercado com as providências do café da manhã. Era quase familiar, pensa agora – isso de buscar o pão e sentar à mesa, todos juntos, nunca teve.
Já chegavam à portaria do prédio quando se deteve olhando para cima. O sol forte que faz as folhas das árvores brilharem mais que o normal sempre prenuncia chuva e ela sempre tem um nó no coração nessas horas. É que fica tudo um tanto bucólico quando o tempo está assim; ao menos para ela. Então lembrou que estava perto a hora de ir. Quis que tudo parasse. Na verdade, sempre quer porque assim elas poderiam andar nas ruas abraçadas e felizes, rindo da cara das pessoas que viraram estátuas com expressões engraçadas e não teria despedida. “Um dia não terá mais saudades”, foi o que a menina disse e o máximo de tempo que terão de esperar será a volta do trabalho. Ainda será assim, espera.
Conteve a dor.
A noite anterior foi de confusão e muita vodka. Deitou e dormiu feito pedra. Estivesse sóbria, a teria deixado espancar o amigo – talvez só assim ele aprendesse a não dar vexames tão grandes. Mas quando pensa nisso, também pensa no que ouviu no portão enquanto outra menina tentava domar o grande alemão bêbado à sua frente. Essa parte da história não contou, nem contará. “A verdade dói”. Mas nem por ser verdade faz a amizade amena com o menino ser agora um cristal menos quebrado. Para ela, beber não justifica. Se disse é porque já queria disser. E os atos cometidos é porque já estavam latentes; talvez só não os fizesse por puro freio social. Ah se ele tivesse realmente conseguido levantar daquele sofá! Teria pena do resultado final. Estivesse ela também sóbria, talvez apartasse tudo e fosse embora, mas também estava alterada e se aquele homem todo conseguisse realmente revidar o tapa na cara de mão aberta que recebeu, sabe bem que avançaria pra cima dele. Oh noite complicada. Bom foi só sentir o calor do corpo dela na cama, acordar e ver aquela mulher linda ao lado.
Mentira. Essas reuniões de turma sempre rendem histórias hilariantes e ótimos momentos, mas é que estava tudo tão recente que vinha mais a confusão do fim da festa e o contrapeso de que ao lado dela tudo tinha um lado bom.
Se sentiu mal no mercado, coisa de quem bebeu demais. Lembrou que havia acordado de calça jeans e com um gosto horrível na boca. “Pensei em te colocar um short mas você estava dormindo tão bem que não quis mexer em você”. Não quer que seja assim... com a menina cuidando dos seus porres. Se prometeu beber menos; ao menos com ela ao lado!
Café tomado, sogros em casa, almoço servido, passagem comprada. As horas voam na rodoviária e sempre tem gente pra olhar. “O cara de azul atrás de você já está me irritando! Parece que nunca viu!...”. Achou engraçado. Mas também se irrita quando olham demais. Selecionavam as músicas no mp3 querendo não contar o tempo. Janta a faz chorar. Não tem jeito. E ela tem de ir. E não há mais tempo. E não há beijo no final. Não do jeito que ela queria...
Se abraçam. O “eu te amo” mútuo. Dá uma vontade de não deixá-la ir... de a juntar ao corpo e desaparecer do mundo...
Ao saírem do prédio, mala na mão, a menina tinha aquela expressão de quem não quer demonstrar no rosto. Ela disse “Não faz essa cara! Parece que você está indo para a guerra”, tentando amenizar as coisas. “Mas eu estou...”. Engoliu a dor a seco e fez uma piada qualquer. Aquela bolha multicolorida seria perfeita naquele momento...
Só faltavam dois minutos. A beijou o rosto e disse “vai...”
E ela foi.

domingo, 11 de janeiro de 2009


I hear you in my dreams
I hear your whisper across the sea
I keep you with me in my heart
You make it easier when life gets hard

(...)

And so I'm sailing through the sea
To an island where we'll meet
You'll hear the music, fell the air
I put a flower in your hair

And though the breeze is through trees
Move so pretty you're all I see
As the world keep spinning round
You hold me right here right now
[Lucky - Jason Mraz]

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As cartas que eu não mando


O armário novo chegou ontem (não consigo falar “guarda-roupas”... é “armário” e ponto.). A máquina de lavar também. Ela demora mais tempo que a outra, antiga, pra fazer o mesmo serviço e é mais baixa; achei estranho. Voltando pra casa no fim da tarde, havia umas nuvens lindas no céu.
Arrumei a casa hoje. Tomei um banho longo e me maquiei pra não sair. Assim... por vontade de maquiar mesmo; sem intenção de esperar alguém. Demorei pra me vestir: troquei umas três vezes de blusa e pus o short do pijama. Liguei o rádio e fui dançar.
Humm... me peguei, uns instantes atrás, baixando músicas daquela cantora juvenil e, confesso, nem é tão ruim assim. Acho que acabei gostando dela, de tanto que ouvi falarem bem.
Tem tanta coisa que eu queria compartilhar...
Porque, de qualquer forma, é ruim ficar sozinha.
A Amanda, a Teia, o Rodrigo e o Felipe vão dividir um apartamento já pro início do próximo mês, mas não é isso. Até pensei em fazer o mesmo, me juntar a eles, mas não daria certo. Eu sou sistemática, me irrito com qualquer coisa e, sendo sincera, não é isso que quero. Antes era ter meu próprio canto e dividi-lo com mais uma ou duas pessoas, no máximo, mas agora... daí que acabei de pensar no porquê tem de ser tão difícil. Eu sei... as pessoas não são compreensivas e demoram a digerir esses assuntos; seria bem mais fácil se eu pudesse dizer “Olha... vou passar uns dias fora” e contar a verdade sobre pra onde estou indo, mas não.
Daí eu penso que um dia seremos só nós duas e eu vou poder achar a nova máquina de lavar estranha ao lado dela e perder alguns minutos do dia discutindo a melhor posição das roupas no armário novo, ou tomar um longo banho depois de um longo dia e me arrumar pensando em estar bem pra quando ela chegar e lhe contar que dou o braço a torcer e que a cantora que ela adora é realmente boa.
Eu sei que um dia vai ser assim e isso tudo não era pra se tornar uma carta dolorida, mas é que deu uma vontade de chorar agora!...
Era só pra dizer que estou com saudades!...


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Arquivo Oculto

“As vezes a gente deleta certos acontecimentos porque simplesmente não fazem sentido num determinado , mas não é que eles se vão... não. Ficam lá, em algum lugar da mente, esperando aquele instante em que serão iluminados por um imenso holofote e então nós dizemos: caramba! Eu nem lembrava disso, mas não é que foi assim mesmo!?”

Por um instante a olhou diferente, mas quis acreditar que era a comoção do ambiente: um show com músicas que falavam de amor, o amigo apaixonado que, mesmo só, parecia acompanhado, aquele ar da madrugada, os casais por perto.
Nem sabia o que esperar direito daquele show – mal conhecia a banda! Só não queria pensar que estava só... que a muito tempo estava só. Mesmo que tivesse tido algumas pessoas pelo caminho, nenhuma quisera naufragar em seus mares... descobrir seus abismos. Se sentia, naquela noite, a pessoa menos interessante do mundo e só não queria pensar sobre.
Todos ali pareciam tão apaixonados e felizes... mais uma vez se sentiu só e com a impressão de que seria assim pela eternidade. Então veio ela falando do garoto de nome estranho que tinham acabado de conhecer. Não, pensou. Definitivamente não! Era esquisito, parecia vindo de um seriado infantil global anos 80, era feio... e tinha tics! Ai... não! E mesmo que não fosse. Naquela hora arranjou todos os defeitos do mundo para o garoto. A amiga merecia mais que aquele nerd alienado provindo de um buraco qualquer do interior de sabe-se lá onde. E ela estava tão bonita aquela noite... merecia mais! Ele não saberia nem o que fazer com ela! Ai, como era lento! Ela deu todos os sinais possíveis e ele... se indignando com duas garotas se beijando a sua frente.
Se recusava a acreditar num beijo entre os dois. A noite não poderia terminar daquele jeito: o amigo ao telefone com o namorado e a menina com aquele sujeito. Ela estava tão bonita aquela noite...
Dissipou o pensamento. Afinal, era só o que faltava! Ciúmes e vontades pro lado de uma das melhores amigas.