segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ontem


É cedo e é domingo. Portanto tudo que é antes do meio dia é cedo.
Mas realmente era cedo. As duas haviam acordado às 7h, a amiga, uma hora mais tarde e pouco depois disso estavam as três voltando do mercado com as providências do café da manhã. Era quase familiar, pensa agora – isso de buscar o pão e sentar à mesa, todos juntos, nunca teve.
Já chegavam à portaria do prédio quando se deteve olhando para cima. O sol forte que faz as folhas das árvores brilharem mais que o normal sempre prenuncia chuva e ela sempre tem um nó no coração nessas horas. É que fica tudo um tanto bucólico quando o tempo está assim; ao menos para ela. Então lembrou que estava perto a hora de ir. Quis que tudo parasse. Na verdade, sempre quer porque assim elas poderiam andar nas ruas abraçadas e felizes, rindo da cara das pessoas que viraram estátuas com expressões engraçadas e não teria despedida. “Um dia não terá mais saudades”, foi o que a menina disse e o máximo de tempo que terão de esperar será a volta do trabalho. Ainda será assim, espera.
Conteve a dor.
A noite anterior foi de confusão e muita vodka. Deitou e dormiu feito pedra. Estivesse sóbria, a teria deixado espancar o amigo – talvez só assim ele aprendesse a não dar vexames tão grandes. Mas quando pensa nisso, também pensa no que ouviu no portão enquanto outra menina tentava domar o grande alemão bêbado à sua frente. Essa parte da história não contou, nem contará. “A verdade dói”. Mas nem por ser verdade faz a amizade amena com o menino ser agora um cristal menos quebrado. Para ela, beber não justifica. Se disse é porque já queria disser. E os atos cometidos é porque já estavam latentes; talvez só não os fizesse por puro freio social. Ah se ele tivesse realmente conseguido levantar daquele sofá! Teria pena do resultado final. Estivesse ela também sóbria, talvez apartasse tudo e fosse embora, mas também estava alterada e se aquele homem todo conseguisse realmente revidar o tapa na cara de mão aberta que recebeu, sabe bem que avançaria pra cima dele. Oh noite complicada. Bom foi só sentir o calor do corpo dela na cama, acordar e ver aquela mulher linda ao lado.
Mentira. Essas reuniões de turma sempre rendem histórias hilariantes e ótimos momentos, mas é que estava tudo tão recente que vinha mais a confusão do fim da festa e o contrapeso de que ao lado dela tudo tinha um lado bom.
Se sentiu mal no mercado, coisa de quem bebeu demais. Lembrou que havia acordado de calça jeans e com um gosto horrível na boca. “Pensei em te colocar um short mas você estava dormindo tão bem que não quis mexer em você”. Não quer que seja assim... com a menina cuidando dos seus porres. Se prometeu beber menos; ao menos com ela ao lado!
Café tomado, sogros em casa, almoço servido, passagem comprada. As horas voam na rodoviária e sempre tem gente pra olhar. “O cara de azul atrás de você já está me irritando! Parece que nunca viu!...”. Achou engraçado. Mas também se irrita quando olham demais. Selecionavam as músicas no mp3 querendo não contar o tempo. Janta a faz chorar. Não tem jeito. E ela tem de ir. E não há mais tempo. E não há beijo no final. Não do jeito que ela queria...
Se abraçam. O “eu te amo” mútuo. Dá uma vontade de não deixá-la ir... de a juntar ao corpo e desaparecer do mundo...
Ao saírem do prédio, mala na mão, a menina tinha aquela expressão de quem não quer demonstrar no rosto. Ela disse “Não faz essa cara! Parece que você está indo para a guerra”, tentando amenizar as coisas. “Mas eu estou...”. Engoliu a dor a seco e fez uma piada qualquer. Aquela bolha multicolorida seria perfeita naquele momento...
Só faltavam dois minutos. A beijou o rosto e disse “vai...”
E ela foi.

1 comentários:

Mariana Costa disse...

Hum...
Eu gosto de acordar cedo, te dar um beijo e dizer: bom dia. Lindo dia.

Ow!
Eu te amo!!

Ah se eu soubesse o que aquele boy falou pra você!
Dava na face dele novamente!!!