sexta-feira, 31 de julho de 2009

Internus

Os bares estão cheios as terças porque é mês de férias. Ela está cheia de trabalhos e de dívidas na época menos propícia possível, mas, ainda assim, se o telefone toca à convidando à boemia, não tem dúvidas. Resolveu dizer “sim”. À propostas de trabalho, à convites de última hora, aos ímpetos com conseqüências desastrosas em sua conta bancária. Aprendeu a considerar bem vindo. Aprendeu na Yoga a respirar, a canalizar energia, a distribuir pesos pra não doer e a se concentrar no processo e viver isso intensamente porque assim o objetivo vem naturalmente.
“Cinema barato hoje?” a voz do outro lado da linha dizia genericamente. “Ok! Só preciso resolver umas coisas aqui.” Ela respondia. “Te espero, então. Estou no bar!”
Não haveria cinema aquela terça, era certo. Fosse que filme fosse, aquele bar era tão intimista que seria difícil sair dali a tempo de qualquer seção e quando ela chegou foi, pois, o que aconteceu.
Sentou-se pela primeira vez à mesa dos cativos – antes era habitué da mesa dos observadores. A sua volta semi-conhecidos, completos estranhos, o dono do bar e a garota que havia telefonado; aquela a quem cita por vezes “consciência”. Cadeiras voltadas para a rua. Meninas passando. Notas, por favor! Certo era que ali naquela mesa todos tinham – ou ao menos diziam ter! – a mesma preferência. O riso corria.
Nem era tão tarde quando, feito poeira, todos escorreram: uns para casa, outros para outras mesas. Fazia frio. Deslocou-se também.
Era então agora, protegida por uma pilastra, dentro do bar, mas ainda em frente à porta, só ela e a amiga. Se viu em confissões sobre o tempo. Em verdade, sobre a falta dele. Disse assim “Estou com medo... as coisas estão acontecendo bem, mas não sei se rápido o suficiente. Essa vida que tenho hoje, querida amiga, não posso sustentar por muito. Preciso dar certo logo para poder ser sem rédeas e enfim completa. Não sei se consigo...”. Quis ter um nó na garganta essa hora. Não deu. Antes que pudesse, a menina rebateu tão forte que ela calou. Disse assim “Deixa eu te dizer uma coisa: você tem todo o tempo do mundo.”. Não disse isso, é fato. Mas foi o que disse. E disse mais: disse que escolheu viver sem complemento de frase. Não escolheu viver sem pressa. Não escolheu viver sem medo. Não escolheu viver loucamentecadasegundocomosefosseoúnicodasuavida. Não. Escolheu viver. E ponto. E ela bem acha que entende. Por isso estarreceu pouco e depois calou.
Os copos se encheram novamente. “Essa é a última?! To com sono!”.
Como cerveja não se desperdiça, terminaram, fecharam a conta e foram. Não tem como não falar em trabalho pelo caminho. Ela disse à sua menina que não quer ser workaholic! Nem pensar! Mas gosta do que faz. Elas gostam. Fecharam parcerias. Se despediram.
Acha mesmo que entende a amiga e não faz menção em discordar.
Tem certeza de que a embriagues da noite não a deixou dizer “Obrigada!”, então diz agora. Diz ainda que mora perto, aqui do lado! E mesmo se assim não fosse, ainda assim estaria, como realmente está.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Paranoid

Voltar para casa é apenas um fato passível de ser adiado.
Certas coisas, coisas bobas, me consomem de tal maneira... ontem eu era confiante, nariz em pé, observando - olhando no olho mesmo - as pessoas na rua e hoje, veja só, mal levanto o rosto, tudo me cai mal e o que mais quero é um buraco discreto e escuro, um esconderijo do mundo. Nos fones de ouvido, a seleção de músicas tristes alimenta a auto-flagelação e todas aquelas coisas, as coisas bobas, ficam revoando em cículos em volta de mim. Minha aura quase sangra. E ainda essa sensação horrorosa, que me persegue a semanas, de que o mundo me olha com aqueles olhos avaliativos que querem descobrir algo a mais, como se já tivessem me visto. Daí eu fico logo preocupada se meu zíper tá aberto, se o cabelo está estranho ou se saiu alguma coisa comprometedora sobre mim na internet e as pessoas estão deliberadamente me reconhecendo nas ruas. E, nesse último caso, o quê seria!? O que poderia ser!!? Só se fosse montagem...
Devo mesmo estar em dias ruins.
Tem também a crise criativa... não vou me delongar sobre isso. Estou determinada a resolver.
Estou também cansada dessas coisas de terceira pessoa - singular ou plural. Mas, se mudo, perco a essência do reduto. E também sei que daqui a pouco mudo a idéia. Não importa. Não é isso que me preocupa... é essa loucura que me abraçou de uns tempos pra cá num estágio quase enfermático que parte de mim é consciente, mas que tem outra que só que se fazer consumir.
Tenho dias de vontade de matar.
Tenho dias de vontade de morrer.
Vejo filmes sobre ter esperança, sobre se libertar do passado e sobre recomeçar a vida, mesmo que haja dor.
"Esquecer, não é perdoar" já dizia o palhaço. "Se consagrou, sangra agora."
Quero muito sangrar.
Mas ainda não é tempo de consagração.
Quero muito sangrar. Ralar o joelho, levar um soco na cara e cuspir uns dentes, cortar o supercílio. Saber que ainda estou aqui. Que esta carne sou eu. Porque nunca quebrei nenhum osso nem tive hematomas causados por esportes. Aliás, ninguém me incentivou os esportes.
Acho sim que fizeram pouco por mim.
Ouvi hoje "Mas você não gosta disso!". Era um suco em pó de morango que eu passei anos rejeitando e ontem resolvi comprar logo uns 3 pra fazer estoque porque descobri a pouco tempo que é bom. E tive de ouvir reclamações sobre estar gastando dinheiro atoa e com "coisas que eu não gosto". Então me vem a mente um dizendo "Já passei dos quarenta! Não tenho mais idade pra mudar!" e o outro, antítese, "É... cinquenta anos... estou ficando um ano mais jovem!". Penso enfim que não quero ser como o primeiro, morto em vida, e retruco mentalmente "Se você não consegue mais descobrir novos sabores pra vida, mô beim, problema teu. Eu consigo.".
Tenho direito de mudar e pretendo exercê-lo até o fim dos dias.
Queria muito que as pessoas parassem de me olhar estranho. O que foi que eu fiz!?
Quase chorei de saudade hoje na rua.
Tenho saudades, menina.
Fico, como sempre, imaginando, nos meus passos vagos pela rua, o nosso futuro de paz.
Quero música pela casa, o sanduíche que só você sabe fazer, um bom vinho - que você fará cara feia toda vez que eu beber - e muitas coisas mais. Eu passaria dias falando e escrevendo o que quero. Acima de tudo quero você. Pra sempre. Meu porto seguro...
Quero agora esquecer tudo isso...
Ver um bom filme...
E lembrar de você.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Limpando os móveis [superficialmente]

Pensei o dia todo e, aliás, a semama inteira, em terminar - o blog.
Porque isso aqui está muito parado.. e eu não tenho muito tempo... nem muito o que lamentar... e agora nem computador tenho mais.... e blábláblá. Mas tem uns momentos que eu paro e vejo que algumas peculiaridades humanas ainda me intrigam e mesmo que ninguém venha aqui pra ler, é algo que precisa sair de mim. Afinal, eu é que não posso ficar noite e dia remoendo os mesmos pensamentos!


Seguia em paz no trajeto do ônibus, pensando que pouca falta fazia naquele momento os fones de ouvido esquecidos em casa. Ia em paz. A parada de decida se aproximava. Levantou. De repente, seu nome seguido de uma exclamação: a professora de Desenho, boa gente, a exclamava - literalmente - na surpresa de estarem na mesma condução. O "Tudo beeeim!?" de sempre e então... então que se seguiu o "E aí!?". O temido "E aí!?" que anuncia - sem exceção - a mão no bolso, o sorriso amarelo. Não é um "E aí, tudo bem!?" ou um "E aí, como você está!?". É só "E aí!?"! Como se faltasse alguma coisa, algum complemento da frase. Na verdade, é como se a pessoa não soubesse o que falar. E o pior é que não sabe mesmo! Ah, como é irritante esse "E aí!?". Mas fácil seria ter perguntado sobre a situação socieconômica das doceiras do Casaquistão!
Aff...
É que não tem muito tato pra conversar sobre as amenidades da vida. Odeia conversas de elevador. Sabe falar sobre temas específicos e mal dos outros, pronto. Limitações da vida? Não... piscina pequena e funda! Por que ela não perguntou qualquer outra coisa!? Por que não finguiu hipermetropia feito o antigo colega de ensino médio que nunca assumirá as preferências sexuais ao insistir num namoro hétero e falido!?? Boa gente ela e tudo mais, mas ah... decpcionou!