sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pontuando

Tem horas que eu preciso ficar sozinha... no phones, no family ...sozinha.

Ele agora me chama de “a garota da encruzilhada” e diz que é preciso respeitar isso... digo, a encruzilhada. E tem toda uma teoria e explicação pra isso que não cabe agora.

Às vezes o tempo voa e eu mal lembro do que fiz ontem, quanto mais semana passada... pra mim – acho que já consigo pensar nisso conscientemente – é difícil lembrar do passado, mesmo que recente. É quase constrangedor. Não porque o seja, nããão... é só a sensação sabe... de constrangimento. É algo embutido aqui dentro de que o que passou foi ruim, de que é duro lembrar; então eu esqueço. Não. Finjo que esqueço. Tento esquecer. Daí, depois, sempre fica difícil lembrar. Piloto automático que ainda não sei onde desligar, acho que é isso.

Eu me perco nos meus devaneios. As coisas sempre me rendem divagações além. A maioria das pessoas nem reflete sobre a maioria das coisas menores. E eu não. Ao contrário. Acho que é por isso que me deram licença de louco: remédios tarja-preta. [ri]

Escrever em terceira pessoa está cada vez mais difícil. Talvez porque não seja o momento. Não agora. Eu estou muito dentro, muito in. Com um texto cheio de “eus” e precisando falar de mim, precisando me encontrar. Ele diz que eu morri – bom, de certa forma isso é um alívio porque antes eu tinha dúvidas se pelo menos isto eu tinha conseguido fazer...de qualquer forma, foi involuntário: surtei, me cortei, tomei remédio, me consumi, precisei morrer e morri... e nem percebi – e só não encontrei ainda um jeito de nascer de novo. Não vi a luz. Ainda, ele diz. A Preciosa me diz que é preciso nascer várias vezes e sempre e é estranho quando um ensaio sobre pensamentos de moda e arte mais parecem um livro de autoajuda feito sob medida pra você. Ele me diz que estou em período germinatório... fetal, mas te confessar... as vezes mais parece umbral. Eu disse a ele que sentia a minha vida em suspensão e ele disse que é. Cheguei àquele consultório querendo falar, contar a vida e reclamar dela – da vida –, delimitar tudo no seu dia da semana, explicar, no meu entender, como cheguei ali, como fiquei assim e dizer que as vezes tudo me incomoda e de início me incomodou mal abrir a boca e ele lá ficar falando sem parar, mas é um negócio aqui dentro que quase quer brotar, quase... nem tem tanta vontade assim. E isso tudo vem me dizer “calma, gafanhoto... calma...”. Ele e sua filosofia zen sobre tudo. Os monges, o verdadeiro cristianismo, capitalismo-filha-da-puta, Jesus-puta-cara-legal, orientais, encruzilhadas... ele sabe o que diz. Acredita no que fala. Vivencia isso. Ou, ao menos, engana muito bem. Eu mal falo das minhas dores e ainda assim consigo me sentir bem. Fico lá, ouvindo ele falar e pensando que algumas consultas atrás eu mal conseguia levantar a cabeça e olhar pro rosto de quem quer que fosse... eu só sabia ser dor, mágoa e tristeza. Não que tenha mudado da água pro vinho. É que entrar ali... ouvir alguém enterrar os cinco dedos nas minhas feridas, remexer tudo lá dentro e ainda estar lá... não desabar... bom, já é algum avanço. Tudo isso pra dizer que não postei um post enorme semana passada que deveria realmente ter postado, mas internet por aqui é coisa rara, então acabou ficando pra trás e que tinha um pouco a ver com isso de estar difícil ser distante, ser terceira pessoa, porque estou mesmo nessa fase auto germinativa, porque to precisando nascer de novo e me parir está sendo um parto de burra e ainda é um nó na garganta essa minha condição de semi-desabrigada deslocada prum lugar que não é meu, mas que ainda assim é necessário e nem é tão ruim assim, mas com tudo isso, ainda assim não é meu. E, afinal, que lugar é esse... que será meu? Onde foi que eu me perdi de mim e perdi esse tempo tão precioso que só vou conseguir recuperar com tempo e só quando eu voltar a ser novamente? Como faz isso? Não tem pra quem gritar... sou só eu comigo mesma, brincando de esconde-esconde no umbral, que é só um ponto de vista porque podia muito bem ser um ambiente plasmo-placentário, mas eu ainda não vejo assim. To tentando.

Minhas idéias são desconexas e eu consigo passar horas falando de coisas que pra muita gente são ínfimas. Meu texto está cheio de “eus” e de “nãos” que sei que preciso resolver. Se descolar dessa forma pré-fabricada de existência e moldar outra autoral é difícil... e dói.

Eu pirei num dia em que, depois de vomitar meus monstro num consultório à trinta reais a hora, o peso do meu mundo foi demais pra mim e tudo se partiu feito implosão de prédio. Talvez porque a forma de expurgo não tenha sido satisfatória, talvez porque, apesar de ter ido procurar ajuda, a verdade é que não estava ajudando muito falar e falar e não sentir nenhum feedback. O motivo, é verdade, já não importa tanto assim, porque são muitos. O fato é que não faz muito tempo atrás eu pirei. O meu mundo quebrou porque estava pesado demais sobre as minhas costas e eu não aguentei todo aquele peso e quebrei junto com ele. Virei pó de um jeito que não deu mais pra juntar. Virei pó jogado no ventilador, em turbina de avião, espalhado pelo ar, pra todo lado, tendo que me virar com isso. Eu pirei, quebrei na forma como eu existia e tive de ir em busca de mim às cegas pra aprender a existir de outro jeito. Tudo bem, os remédios me dão um par de óculos que ainda não estão no grau certo pra minha miopia aguda, mas uma hora a gente acerta o passo. E essa história de se perder... de alucinar... de passar férias no umbral, chafurdando a própria desgraça pra curar a dor, desconstruindo esses sentidos de segurança que a gente chama de “vida” e perdendo o chão pra achar o prumo... tem gente que me diz que é bom, que é preciso, que todo mundo devia passar por isso.

Talvez não seja tão ruim assim...

0 comentários: